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sexta-feira, 20 de maio de 2011

Relatos de uma experiência


Por Regina de Carvalho 

Cada biblioteca está passível de ser chamada de espaços de cultura, basta que se permita aos usuários o direito de sugerir, de intervir nesse meio que é factível desta denominação. Trabalhei em uma biblioteca que nasceu de uma iniciativa da comunidade e mais tarde passou a ficar sob os cuidados de uma Instituição que passaria a gerir o mesmo. Fiquei responsável pela organização do espaço e aos poucos a comunidade retomou as visitas de maneira cautelosa, pois o ambiente não mais funcionava como antes. O que caracteriza uma biblioteca comunitária é a gestão deste espaço ser realizada pelos interessados em fazer uso da mesma, variando de ter registro de empréstimos ou simplesmente a troca espontânea. Este espaço se tornara então uma biblioteca popular
Com as mudanças realizadas as pessoas perceberam que poderiam utilizar o local, entendendo a importância dos registros, mas sem perder as características de ser um espaço pra ficar, opinar.
Neste local as que mais visitavam eram crianças entre 6 e 12 anos, na qual iam se encontrar com os amigos, aos poucos pediram que tivessem jogos no local, brincavam com as histórias do livro, e com isso fomos alimentando aquelas idéias. Disponibilizamos jogos de raciocínio lógico, tecidos bem coloridos e almofadas para dar um ambiente aconchegante para as idéias de histórias. Nem tudo sai tão bem e sem tropeços, é fato que as crianças se agitavam muito, às vezes não utilizavam os livros virando um espaço de brincar, mas na saída: um livro debaixo do braço. Refletir sobre aquele não silêncio do local era uma constante, era fato que eles eram os usuários dominantes e com isso mandavam nas diretrizes, com isso era necessário da nossa parte fazer com que controlassem suas emoções, fato esse pertinente com o desenvolvimento da criança, trazendo mais um aspecto a esse local “lugar de aprender” com quem está por lá, e não somente nas informações com seus respectivos suportes.
Da curiosidade e do proibido as crianças descobrem os assuntos que mais lhes fascinam, um livro de fotografias revela cenas do corpo nu, que logo atraem os risos, a aproximação de mais colegas, e uma série de informações acerca do corpo e do sexo, as vozes ecoam alto pela biblioteca, pedindo uma intervenção de nossa parte. Primeiro separar a faixa estaria, os mais velhos (8, 9 anos) dos menores atraídos apenas pela algazarra. A partir da conversa relatos de cenas que viram em filmes pornográficos, assuntos que ouviram os adultos falarem, uma cena de novela, a curiosidade saltando aos olhos, e escondiam o livro sabendo que era assunto proibido pra eles. A partir disto que informação é útil para esse grupo tão precoce que já está tão envolvido com o sexo? A resposta foi um projeto em que permitisse o contato com livros apropriados e um bate papo sobre o assunto por meio de encontros, então eles passam a gerar informações naquele local, e não mais apenas consulta-la.
No livro a Casa da Invenção de Luís Milanesi e os textos de Victor Flusser trabalhados na disciplina de ação cultural vão de encontro a esse relato que faço. Não participo desta disciplina, mas deixo aqui um relato vivo de que isso pode acontecer e gera impacto na comunidade que está inserida.

Sobre Livros e Leitores


"Guimarães Rosa me disse uma coisa que jamais esquecerei, tão feliz me senti na hora: disse que me lia "não para a literatura, mas para a vida"
Clarice Lispector.

Como parte do cumprimento da disciplina de Ação Cultural à qual o blog também está atrelado, o próximo post irá abordar os assuntos biblioteca, livros e leitura; com indicação de curtas, também relacionados.

O centro cultural pode ser visto como uma ampliação da biblioteca, pois além de livros, este lugar oferece música, teatro, dança, cinema, entre outros. Ambos existem sob a condição de terem leitores e/ou freqüentadores, ou correm o risco de serem fechados. Além disso, como normalmente ocorre, estes dois lugares são “implantados” em uma comunidade, o que pode levá-los à rejeição por parte de seu público, já que sua estrutura não nasceu nesta comunidade, e sim foi implantada nela, vindo de fora.
Tradicionalmente, a biblioteca e o centro cultural são espaços onde se oferece cultura, como em supermercado. Há outra possibilidade: a de serem espaços que também desenvolvem a cultura, onde a expressão cultural possa ser reproduzida, reconhecida por seus semelhantes. “Na biblioteca e no centro cultural tradicionais, existe consumo de cultura; na biblioteca e no centro cultural novos, criação cultural.” (FLUSSER, 1983, p.165).
A função de uma biblioteca como centro cultural será, portanto, a de suscitar a cultura literária viva, de maneira que se possa pesquisar a realidade, o desenvolvimento da consciência da emergência da cultura e da leitura, e principalmente, que esta “atitude literária” possibilite a consciência de sua condição cultural. 
O livro não é coisa, não é objeto (simplesmente); é um meio em que autor e leitor podem se comunicar; dialogar entre si. Sob este ponto de vista, o livro somente exerce seu sentido completo quando lido. Só há diálogo entre autor e leitor quando existe a leitura deste.  


Relacionamos abaixo 3 curtas que exemplificam a força e o poder dos livros, e as mais variadas relações em que o livro e o leitor podem ter.
 
O Nosso Livro
O belíssimo curta-metragem O Nosso Livro de Claudia Rabelo Lopes e Luciana Alcaraz (com duração de 15 minutos), conta uma história bela e simples que trata do amor de duas pessoas pela literatura, dois leitores que o destino aproximou, através dos livros e dos recados deixados entre as páginas dos mesmos. Isabel e Roberto não se conhecem, mas trocam bilhetes em livros numa biblioteca, até que descobrem que estão apaixonados. 
Bom filme


Titulo: O Nosso Livro       
Gênero: Ficção
Diretor: Claudia Rabelo Lopes, Luciana Alcaraz
Elenco: Bárbara Montes Claros, Marcos Caruso, Regina Sampaio, Vera Holtz, Zé Alex
Ano: 2005
Duração: 15 min
Cor: Colorido
Bitola: Vídeo
País: Brasil
Local de Produção: RJ
http://www.youtube.com/watch?v=NS4glMVCAoI

Clandestina Felicidade
Onde está a felicidade? O que é a felicidade? Se estas questões são difíceis de responder para um adulto, imaginem então para as crianças. A princípio é o que podemos pensar quando nos colocamos a refletir acerca de assunto tão complexo quanto este. Mas, para as crianças, na verdade, responder esta questão é mais simples do que para os adultos, tão envolvidos que estão com as responsabilidades do mundo em que vivem.  Ao longo de seus 14 minutos embarcamos no túnel do tempo, rumo à infância, em Recife, de uma ucraniana/brasileira que se revelaria célebre escritora, Clarice Lispector.
Vêem-se as primeiras relações da menina que amava os livros e as letras onde desde a mais tenra idade é astuta observadora da realidade e vai muito adiante disto, pois além de prestar atenção em tudo o que acontece ao seu redor, se envolve com as pessoas, os lugares, os bichos (como suas galinhas), as peculiaridades da cultura local, os livros, as coisas de criança...
 
Titulo: Clandestina Felicidade    
Gênero: Ficção 
Diretor: Beto Normal, Marcelo Gomes 
Elenco: Luisa Phebo, Nathalia Corinthia, Luci Alcântara
Ano: 1998
Duração: 15 min
Cor: P&B
Bitola: 35mm
País: Brasil
Local de Produção: PE
http://www.youtube.com/watch?v=jaxbudiXK54


A menina que odiava livros
 Esta animação é baseada no livro [de mesmo nome]  da autora indiana Manjusha Pawagi, que conta a história de uma garota que se chamava Meena, uma garota que odiava livros. Mas não podia ficar longe deles! Seus pais compravam muitos livros e tinha livro pra tudo quanto é parte: mesa, gaveta, etc. Um certo dia o gato de Meena deixou cair todos os livros, e naqueles livros os personagens começaram a vir para o mundo real, e tinha coelho embaixo da mesa, cavalo, muitos animais. Aí Meena pensou: "por que eu não leio para ver se os animais vão para seus livros? Bom, vou tentar!”. 

 
http://www.youtube.com/watch?v=geQl2cZxR7Q

Referência:
FLUSSER, Victor. A biblioteca como um instrumento de ação cultural. Revista da Escola de Biblioteconomia da Ufmg, Belo Horizonte, v. 12, n. 2, p.145-169, set. 1983.